Txutxuca no STF (por Mirian Guaraciaba)
Como aceitar um pedido de desculpas do Bolsonaro ao seu algoz?
atualizado
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Prazeiroso assistir o cabra-macho pedir desculpas a Alexandre de Moraes por tê-lo acusado de corrupção.
Seguidores de Bolsonaro estão babando. Odeiam Moraes tanto quanto odeiam Lula. Nas redes sociais, pregam a morte dos dois. Como aceitar um pedido de desculpas do seu líder ao seu algoz? “Foi retórica”, desculpou-se. E não foi uma só vez que o ministro do STF foi merecedor de pedidos de lamentação.
Nos dois dias de interrogatório, os réus do “núcleo crucial” da trama golpista contaram suas versões – recheadas de pedidos de desculpas ao Ministro Alexandre de Moraes. Pelas mentiras, ironias, distorções. Tudo indica, agravaram sua situação perante a Justiça. Bolsonaro confirmou que “estudou” planos de golpe com as Forças Armadas “dentro da Constituição”. Mas “não houve clima”.
Nervoso, boca seca, gaguejante, o Capitão persistiu no que ele chama de “retórica” contra as urnas eletrônicas, continuou acusando fraude nas eleições, esbravejou contra Lula – “esse mandatário que está aí”, a quem se recusou a ar a faixa. Por covardia assumida. “Iria tomar a maior vaia da história”.
O General Heleno deu-se mal até mesmo respondendo às perguntas ensaiadas de seu advogado. Depois de um breve cochilo durante audiência no STF, o general aposentado usou o direito de não responder o Moraes. O advogado comilão que virou meme, teve que chamar sua atenção para não falar demais: sim ou não, general.
Nenhum dos sete réus negou teor de reuniões ou de documentos citados pelo delator Mauro Cid. Interpretações diferentes. Anderson Torres, que ou de ganso a pato, dono da minuta do golpe, misturada num envelope a fotos da família, beirou o risível ao justificar viagem a Disney com as filhas na primeira semana do Governo Lula. Mais inusitada foi a perda de seu celular na Disney. “Fiquei desorientado com a decretação da minha prisão”, contou.
Para todos os réus, falta pouco para o julgamento final. Advogados experientes de Brasília acreditam que arão o Natal de 2025 na cadeia. Bolsonaro perderá não só os direitos políticos ad eternun, mas a graça que exibiu ontem a um bem humorado Moraes. Não terá novas oportunidades de convidar o ministro do STF para seu vice em 2026, convite declinado na hora, nem fazer outros gracejos com a Justiça.
Mirian Guaraciaba é jornalista